Estudantes de uma escola na
Kallithea, Grécia, entrevistaram Sua Eminência o Metropolita Hierotheos de
Nafpaktos e Agios Vlasios +, questionando-o 19 perguntas sobre
assuntos contemporâneos e dúvidas pessoais. As respostas foram publicadas no jornalzinho da escola.
Nota do autor: Gostaria de ressaltar que algumas
perguntas parecem ser próprias para o contexto grego como a que diz sobre a
crise econômica, mas pode servir a todos nós de maneira geral. São questões
comuns do homem pós-moderno, e principalmente jovens, respondidas a luz da fé ortodoxa.
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1. Há uma definição para a alma?
Metropolita Hierotheos: A alma é uma criação de Deus que
surge através de Suas Energias; é viva, imortal pela graça, distinta do corpo,
mas unido a ele. Ser Humano consiste em alma e corpo, e estes dois separados
não constituem um Humano. A Igreja não acredita na pre-existência da alma sem o
corpo, nem na pré-existência do corpo sem uma alma. A alma é o componente
espiritual da existência humana que dá vida ao corpo. É fantástico quando
alguém se esforça por conhecer a alma de uma pessoa e não se foca apenas no
corpo.
2. O que te levou a ser um Padre?
Metropolita Hierotheos: Eu me tornei Padre por conta da vida
eclesial que tive desde minha juventude, como também meu amor por Deus e pelos
homens. Foi um ato natural de pertencer a vida eclesial e eu me sinto muito
bem. Quando era uma criança amava o Santo Templo e era conectado a ele. Fui
inspirado por pessoas que tinham um grande amor por Deus e pela Igreja. Eu me
tornei um padre por conta do amor e não porque não tinha o que fazer. Agora,
não sou apenas feliz, mas livre. Não me importo em “ser”, mas em “qualidade de
ser”. Não me esforço para ser feliz, mas para ser livre. Há uma diferença
enorme entre os dois.
3. Como você se sente sobre seu cargo e seu relacionamento com Deus?
Metropolita Hierotheos: Enquanto Bispo que sou, tenho uma
responsabilidade pelos cristãos, pelo clero, pelos jovens e pelos idosos. Eu
sou um servo de todos e sempre que eles precisarem serei seu pai e curador. É
claro, que quando alguém reza, eles sentem a presença de Deus. Deus não é uma
ideia, nem um ser impessoal, ou um valor simbólico, mas um amor erótico e ama
com este amor erótico que preenche o homem e como um amante atrai para Si mesmo
os dignos deste amor erótico.
4. Por quê as pessoas, especialmente
os jovens, tem se distanciado da Igreja?
Metropolita Hierotheos: Eles se afastam porque acreditam
numa Igreja que ela não é. Eles sentem como se fosse uma religião, uma loja de
souvenirs ou uma casa de repouso, etc... Todos somos culpados por isto. Nós, os
clérigos por não mostrarmos verdadeiramente o que a Igreja é e também os jovens
por não buscarem mais profundamente o sentido da Igreja. Para encontrar algo
profundo é necessário amar isto, sentir dor por isto e procurar isto. A Igreja
não é um lugar de rebelião contra tudo que há de ruim e hipócrita, mas um farol
espiritual que ilumina e guia.
5. O que é e qual deveria ser o papel da Igreja na crise atual.
Metropolita Hierotheos: Seu papel será sempre o mesmo, que é
unificar e curar. Quando há um padre com sensibilidade numa paróquia, ele pode
organizá-la e operar ela como uma comunidade terapêutica. A Igreja é a mãe de
todos, e recebe a todos sem discriminação, oferecendo significado na vida.
Entretando, eu devo dizer que quando
falo da Igreja, não me refiro a uma instituição estabelecida, de um Sínodo de
Bispos ou reunião de Presbíteros, mas da união entre clérigos e leigos que
foram batizados e vivem de acordo com as palavras de Cristo. Vós também sois
membros da Igreja. Não vos separai da Igreja.
6. Como a Igreja usa sua riqueza?
Metropolita Hierotheos: Em primeiro lugar, é uma mentira que
a Igreja tenha uma quantidade grande de riqueza material. É o chamado mito da
riqueza imensa. A Igreja tem apenas 4% de toda sua propriedade original do qual
ocasionalmente doa para estabelecimentos como hospitais, escolas,
universidades, instituições, e fins filantrópicos. Ocasionalmente, a Igreja (na
Grécia) tem ajudado o Estado para que não quebre financeiramente. Esta é uma
verdade que ninguém deveria esquecer. E finalmente, a verdadeira riqueza da
Igreja é sua teologia, sua adoração, seus membros, os cristãos.
7. A Igreja deveria se modernizer em alguns assuntos, se sim, em quais?
Metropolita Hierotheos: A Igreja tem uma Tradição viva que
tem a habilidade de adaptar-se a cada era sem perder sua essência. Não há necessidade
de secularizar isto, fazer compromissos, mas convidar as pessoas a buscar. É um
lugar semelhante ao verdadeiro erotismo, que não é mal, mas convida as pessoas
a observar a beleza essencial do outro. A beleza humana não é apenas externa,
mas interna. Isto acontece com a Igreja também. Em alguns assuntos é possível
modernizar, quando isto acontece para provisão da Verdade e não a perda dela.
8. O que você diz sobre a corrupção
dos Padres?
Metropolita Hierotheos: Não existe somente neles, mas em qualquer humano. Em qualquer país a
corrupção é observada para revelar um elemento humano. Muitos padres iniciam
com bons propósitos e dedicam-se. Durante o percurso, muitos perderam seu
objetivo nobre por vários fatores. Entretanto, temos ótimos padres. Alguns nos
levaram a atual crise econômica por luxo desnecessário enquanto outros lutam
para ajudar as pessoas e confortar os aflitos, ajudando a sociedade.
9. Qual é sua opinião sobre os ateus e aqueles de outras religiões?
Metropolita Hierotheos: Não posso fazer uma distinção entre
ateus e religiosos fundamentado em critérios externos. Não creio que existam
ateus, porque os que assim se clamam acreditam em algo e nisto atribuem
características divinas. Podem haver ateus que acreditam e cristãos ateus.
Ateísmo não é apenas uma ideologia, mas uma vida prática. Portanto, um ateísmo
perfeito está a um passo de uma fé perfeita, de forma paradoxal. Aqueles de
outras religiões tem sua própria tradição, o que é um componente de qualquer
cultura. Devemos tomar cuidado para não sermos fanáticos, racistas e violentos.
Fanatismo religioso é igual a pior forma de esquizofrenia.
10. Como Deus julgará a pessoa boa e
o mal cristão?
Metropolita Hierotheos: Não posso saber. Não posso entrar na
mente de Deus. Entretanto, gostaria de dizer que me alegro que serei julgado
por Deus e não por pessoas, porque Deus vê sua alma, suas intenções e é amante
dos homens, enquanto pessoas julgam externamente e são muito cruéis. Temo muito
é a falta de coração das pessoas.
11. Como é a relação entre Ortodoxos
e Católicos hoje?
Metropolita Hierotheos: Há muitas tradições diferentes,
diferenças teológicas, como também cultuais, sociais e psicológicas. Os
diálogos teológicos feitos hoje, quando honestos e feitos sem agendas, podem
beneficiar quem está buscando a verdade.
12. Na escolar falamos sobre o Mistério do Matrimônio. O que você acha
sobre a decisão de permitir casamento entre pessoas do mesmo sexo? E sobre o
casamento civil?
Metropolita Hierotheos: A Igreja tem sua própria teologia
sobre matrimônio. Matrimônio é a união de acordo com Cristo de um homem e uma
mulher para formar uma família e criar um espaço de amor e paz. Os ensinamentos
da Igreja não abrangem matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Isto não pode
acontecer. Mas a Igreja não é responsável por aqueles que querem viver suas
vidas fora de sua tradição e ter um casamento civil.
13. Deveria apenas a fé Ortodoxa ser
ensinada nas escolas (da Grécia) ou outras religiões também?
Metropolita Hierotheos: Há muita discussão neste assunto. Muitos planos tem sido propostos e
opiniões ouvidas. Em cada proposta há prós e contras. Atrás do
programa educacional certo que visa o propósito da educação acredito que
depende do professor que ensina e dos alunos que aprendem. Seria confuso quando
alguém ensina algo sem acreditar e alunos escutam indiferentes, sem desejo de
aprender.
14. Qual é a relação entre jejuar e a Eucaristia?
Metropolita Hierotheos: A Eucaristia é o ápice de toda a vida
eclesial. É literalmente uma comunhão, de união e amor. E qualquer evento como
este merece uma sincera aproximação com preparação apropriada. Jejuar é um
caminho para preparar-se para aqueles que podem, mas participar da Sagrada
Comunhão é fundamentado naquilo que a Liturgia ensina: “Com fé, devoção e temor a Deus, aproximem-se!”. O requisito é
temor a Deus, fé e amor.
15. Qual a importância de Confissão?
Metropolita Hierotheos: Confissão é um mistério de diálogo
com Deus através do padre. Estamos tão acostumados a fazer monólogos conosco
mesmo, repetindo discursos nas partes mais interiores e pouco iluminadas da
alma e não temos a coragem de abrir este compartimento escuro para ser
iluminado. Com a confissão paramos de fazer estes trágicos monólogos e iniciamos
um diálogo com Deus, deixando o mundo da ilusão e abrindo-nos para a luz da
verdade.
16. O que é pecado?
Metropolita Hierotheos: Pecado é enfermidade, morte, término de uma relação com Deus e nossos
próximos; é uma enfermidade gerada por um amor egoísta.
17. O que acontece com a alma após a
morte nos 40 primeiros dias?
Metropolita Hierotheos: Com a morte o homem não é levado ao
“zero absoluto” como alguns clamam. Quando a alma é separada do corpo, ela vive
e retornará ao corpo, que será ressuscitado. Não encontrei em nenhum escrito
patrístico que a alma permanece conosco por 40 dias depois da morte e após isto
vai para algum lugar. A alma é imaterial, e após sair do corpo continua sua
vida lá fora.
18. Alguns acreditam que a Segunda
Vinda logo acontecerá. Isto pode ser previsto pelas Sagradas Escrituras?
Metropolita Hierotheos: Cristo nos ensinou que não
poderemos saber quando a Segunda Vinda acontecerá, mas ocorrerá de repente. A
questão é que devemos honrar a Deus, aos nossos próximos, e a nós mesmos todos
os dias, tendo assim paz com nossa consciência, e assim amaremos nossos
companheiros sem egoísmos, isto é o mais importante. Eu não posso aceitar
falsos profetas que difundem agonia e dúvidas sobre as pessoas (com essas
previsões do fim). Eu gosto de falar sobre amor, vida, altruísmo e erotismo
divino.
19. Qual sua opinião sobre o Darvinismo?
Metropolita Hierotheos: Há várias teorias sobre a criação e evolução do homem. O conflito entre
cristianismo e ciência é algo particularmente ocidental e de outras tradições
cristãs. Na teologia ortodoxa, expressa pelos Pais da Igreja, não há conflito
entre teologia e ciência, porque teologia e ciência operam em campos diferentes.
Entretanto, enquanto clérigo e
teólogo o que primariamente me preocupa é outra evolução: como nós humanos
podemos ser divinizados, nos tornar deuses; de como podemos transformar nossos
impulsos animais para algo humano e então divino; de como o amor próprio pode
transformar-se em amor a Deus e ao próximo; de como o inferno em nossas vidas
pode transformar-se em paraíso; como nossos instintos biológicos evoluem para o
erotismo divino; que também regenera o erotismo humano; de como vamos parar de
ver nosso próximo como instrumento de satisfação e uso para vê-los permeados de
júbilo. Enfim, de como podemos nos tornar pessoas teantrópicas.
Eu não quero ser jogado na prisão e
receber a liberdade de enfeita-la. Quero abandonar qualquer tipo de prisão.
Quero liberdade de espírito, para ser elevado acima do efêmero, e buscar a transcendência
da morte.
Deus seja louvado .
ResponderExcluirBrilhante entrevista.
solicito sua autorizacão para adicionar seu blog como opcão a ser conhecida no blog de nossa Diocese http://diocesedevoltaredonda.blogspot.com.br/ , se sim queira nos enviar um e-mail no endereco eletronico qe encontra no próprio blog. Deus o bendiga.
+Duarte
Dom Antonio Duarte, olá!
ExcluirFique a vontade, tem a permissão.
Deus te salve!