Diferença
entre Essência e Energias
Se Deus fosse apenas essência, ninguém poderia se unir a Ele, ou
viver em comunhão com Ele, porque a
essência divina é inacessível ao homem, pois o Senhor declara: "Não me
poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá."
(Êxodo 33:20).
Vamos utilizar uma analogia bem prática e humana. Se tocarmos um
cabo elétrico, morreremos. Por outro lado, se conectarmos isto a uma lâmpada,
utilizaremos a luz e seremos iluminados. A energia da corrente elétrica pode
então ser observada, apreciada e ela nos auxilia. A essência não podemos
portar. Algo similar acontece com as energias incriadas de Deus.
Se pudéssemos estar conectados com a essência de Deus, também nos
tornaríamos deuses em essência. Nominalmente, tudo se tornaria divindades,
haveria uma confusão, e portanto, nada seria divindade. Por nome, isto é o que
acreditam algumas religiões orientais, como o Hinduísmo, onde a personalidade
divina não existe, mas sim, uma essência vaga, dispersa pelo cosmos, nas
criaturas humanas como também nos animais e matéria (Panteísmo).
Da mesma forma, se Deus tivesse apenas uma essência incomunicável
sem Suas energias, Ele seria um Deus autossuficiente, fechado em Si mesmo e sem
comunicar-se com Sua criação.
É com suas energias incriadas que Deus criou o mundo e continua a
sustenta-lo. Ele concede essência e existência ao nosso cosmos com suas
energias incriadas, porém criadoras. Ele está presente na natureza e sustenta o
universo com Suas energias. Ele ilumina o homem com suas luminosas energias.
Ele santifica o homem com suas santificantes energias. E finalmente, diviniza o
homem com suas divinas energias. É com tais energias, que o Santo Deus permeia
a natureza, o mundo, o cosmos, a história e a vida dos humanos.
As energias de Deus são energias divinas. Elas são também Deus, sem deixar de ser Sua
essência. Por serem divinas é que tornar o homem divino. Se as energias não
fossem divinas, então elas não seriam Deus, não nos divinizaria nem nos uniria
a Ele. Haveria finalmente, uma gigantesca distância entre o Criador e Sua
criação.
Do contrário, como crê a fé ortodoxa: Deus tem suas energias e nos
possibilita unirmos a ela, e a isto se refere a Sua Graça. Nos unimos a Ele,
nos tornamos um com Ele e não um como Ele, caso nos uníssemos a Sua essência e
não as energias.
Nós, portanto, nos unimos a Deus através de suas energias incriadas,
e não através de Sua essência. Este é o mistério que envolve toda a criação,
toda a fé cristã ortodoxa e toda a vida humana.
Isto, a falácia ocidental não pode aceitar. Por quê? Por que são
racionalistas e não podem diferenciar entre essência e energia e ao mesmo tempo
continuar crendo que Deus é incriado. Por este motivo, não há no discurso
cristão ocidental a Theosis (divinização) do homem. A questão deles é de que o
homem não pode se tornar Deus porque não podem imaginar energias incriadas, mas
somente energias criadas. Isto significa: como pode algo criado, “fora de Deus”,
tornar Deus o homem criado?
São
Gregório Palamás e o pensamento ortodoxo
Durante o século 14, aconteceu uma grande confusão na Igreja
Ortodoxa, que iniciou-se com um monge ocidental, chamado Varlaam. Ele ouviu em
algum lugar que os monges atônitas (do Monte Athos) estavam discursando sobre
Theosis. Ele foi informado que através da constante oração, se uniam a Deus e podiam
até mesmo vê-Lo. Ouviu até mesmo que podiam ver a luz incriada que foi vista
pelos Apóstolos na Transfiguração de Jesus Cristo no Monte Tabor.
Entretanto, Varlaam, tendo seu espírito permeado pelo racionalismo
occidental, não percebeu a genuína experiência divina destes humildes monges e
começou a acusa-los de loucura, heresia e idolatria. Varlaam chegou a afirmar,
por exemplo, que era impossível aproximar-se e ver a Graça Divina, porque ele
(Varlaam) não sabia nada entre a diferença da essência e das energias incriadas
de Deus.
Na mesma época, a Graça Divina trouxe um grande e iluminado mestre
para a Igreja: São Gregório Palamás, Arcebispo da Tessalônica. Com grande
sabedoria e iluminação por Deus, e também por experiência mística pessoal, ele
escreveu centenas de textos ensinando, através das Sagradas Escrituras e da
Sagrada Tradição da Igreja, que a luz incriada da Graça de Deus, citado por São
Paulo em suas cartas, são na verdade as energias divinas.
São Gregório Palamás defendeu que os monges que haviam visto a luz divina haviam sido divinizados (através da Theosis). Esta é a glória de Deus: a luz da Transfiguração no Monte Tabor, a luz da Ressurreição de Cristo, a graça do Pentecostes e até mesmo a iluminada nuvem citada no Antigo Testamento.
As energias divinas são, na teologia ortodoxa, reais e místicas e
não somente simbólicas como Varlaam falsamente acreditava.
Em continuação a isto, a Igreja reunida em três grandes Sínodos na
cidade de Constantinopla, glorificaram (canonizaram) São Gregório Palamás e
declararam o real objetivo da vida em
Cristo, que não era a moralização do homem, mas a sua divinização, onde o homem
participa da graça de Deus de forma plena.
Conclusão
Até hoje, ocidentais consideram as energias divinas como cousas
criadas e não incriadas. Isto é infelizmente uma das reais diferenças entre
Ortodoxia e Heterodoxos, devendo ser levado a sério no diálogo teológico.
Assuntos como a “Filioque”, primazia e “infalibilidade” papal e outros dogmas
latinos são apenas a ponta do iceberg.
Se cristãos ocidentais não aceitam que a Graça de Deus é incriada,
jamais poderemos tomar do mesmo cálice, mesmo que acreditassem em todas as
outras coisas. Pois, quem pode divinizar o homem, senão o “Deus que se tornou o
que somos para que pudéssemos nos tornar o que Ele é?”.
- Tradução do artigo "Theosis, o objetivo da vida humana.", escrito pelo Arquimandrita George, Ábade do Monastério de São Gregório no Monte Athos, Dezembro, 2006.
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