terça-feira, 4 de junho de 2013

O Confessor dos Astronautas

Benção das naves espaciais por um padre ortodoxo

"A exploração do espaço está de acordo com a vontade divina,
pois elas proporcionam ao homem 
a oportunidade de explorar a si mesmo."
- Sua Beatitude, Patriarca Cirilo de Moscou e toda a Rússia

"Você viu Deus lá?" - Tal pergunta, por vezes sarcástica, por vezes curiosa e inocente, é constantemente repetida aos astronautas de missões espaciais assim que retornam à Terra. A resposta dos americanos é simples e ficou marcada na história: "Não O vimos, mas contemplamos Seus rastros.".

Astronautas russos, por sua vez, não podiam conceder respostas do gênero na ateísta União Soviética, onde  religião era o "ópio do povo" e Deus "não existia".

Hoje, numa Rússia com liberdade religiosa, as condições são diferentes e os astronautas podem ter seus próprios pais espirituais e confessores, pelos quais podem se comunicar a qualquer momento diretamente do espaço, antes, durante ou depois de sua estadia no espaço.

Para o padre ortodoxo Job Talats, estes destemidos astronautas são pessoas que tem suas próprias questões e também se perguntam como Deus estabeleceu o Universo.

Pároco da Igreja Ortodoxa da Transfiguração, padre Talats regularmente visita o Cosmódromo de Baikonur, de onde missões espaciais são lançadas. Lá, ele prepara espiritualmente os astronautas para a longa jornada e também os recebe de braços abertos quando retornam, para que possam agradecer ao Senhor pela experiência. 

"Quando o homem está no espaço sideral, ele pode contemplar a majestade do Universo e se aproximar ainda mais do Seu Criador.", comenta o padre.

"Não O vi, mas contemplei Seus rastros."

Crucifixo da Estação Espacial Russa (ROSCOSMOS)

O padre ressaltou que o astronauta americano, Frank Borman, o primeiro homem a ver de perto a lua, em certo momento, após um prolongado silêncio, sussurrou: "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra está vazia e informe...". Primeiro verso do livro de Gênesis, primeiro livo das Sagradas Escrituras. Muitos dos companheiros da missão espacial não conseguiram conter as lágrimas. Quando retornou à terra, foi questionado: "Você viu Deus lá?", e ele respondeu: "Não, eu não O vi, mas contemplei os Seus rastros.".
Estes "rastros" que Borman contemplou agora parecem ser também contemplados por seus colegas russos, conforme explica o padre Talats:
Os astronautas me ligam antes das decolagem, pedindo por orações e bençãos. Yuri Lonchakov, comandante espacial, chegou a ler a Bíblia inteira durante o período que esteve no espaço. Durante as últimas horas antes do voo, conversávamos sobre assuntos teológicos, interpretação ortodoxa da criação, como os santos compreendiam a natureza do cosmos e afins. Oleg Skripinchko cumprimentou o Patriarca de Moscou diretamente do espaço, quando Sua Beatitude visitou o Centro Espacial. Outro, Fyodor Turchikhin, de origem grega, permaneceu seis meses na órbita da terra e levou consigo relíquias de São Teodoro, o Comandante.
"Meu Deus, porque retornei à terra?"

Ícone da Theotokos acoplado na parede da Estação Espacial Russa (ROSCOSMOS)
De acordo com o padre Talats, cada astronauta adquire suas próprias experiências no espaço. "Você não pode explicar isto. Não pode-se explicar o que se sente, porque pessoas são diferentes e vivem experiências variadas. Um astronauta, Valery Oliagov, ficou em torno de um ano e três meses na Estação Espacial, é um campeão e recordista. Durante o período na Estação Espacial, ele celebrou a Páscoa e até mesmo cantou o tropário da Ressurreição, cheio de júbilo. Quando retornou, se deparou com os problemas diários e a realidade terrena, chegando a se questionar, meio sarcástico, meio brincando: "Meu Deus, porque retornei à terra?".

- Retirado e traduzido parcialmente e livremente do artigo: "The confessor of the Astronauts - Fr. Job Talats: «In Space you can see the Grace of God»", entrevista do jornal grego TO VIMA.

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