quinta-feira, 24 de julho de 2014

Quatro razões pelo qual o cristianismo primitivo se expandiu tão rápido


O rápido crescimento do cristianismo em seus primeiros séculos é ainda fonte de fascinação. Rodney Stark, um sociologista da religião que escreveu muito sobre este assunto, pontua: “Como um pequeno e obscuro movimento messiânico surgido na orla do Império Romano expeliu o paganismo antigo e se tornou a fé majoritária da civilização mundial?”.

Ao desenvolver uma resposta a sua própria pergunta, Stark combina pesquisa histórica com insights advindos de estudos social-científicos sobre movimentos religiosos e conversões. Entre tantos pontos que estudou, ele explana quatro razões essenciais para o crescimento do Cristianismo.

1. Redes Sociais

Sempre e sempre, pesquisas mostram que conversões religiosas geralmente ocorrem “através de redes sociais, através de uma estrutura direta e íntima de relações interpessoais”. Amizades diárias e contato pessoal entre os fieis comuns são razões que fazem a grande diferença, hoje e no passado.

2. Cuidar dos enfermos, viúvas e órfãos

Pragas, incêndios, desastres naturais, tumultos e guerra eram fenômenos recorrentes nas cidades onde os primeiros cristãos chamavam de lar. O que distinguia os cristãos nesse contexto era a resposta deles a estas calamidades. Ao invés de fugir para o campo e escapar dos problemas, eles ficavam e cuidavam de seus irmãos, como também dos não-cristãos.

Mesmo sem muito conhecimento de medicina, o simples ato de prover comida, água e abrigo as pessoas doentes aperfeiçoou amplamente o percentual de sobrevivência em tempos de epidemias generalizadas. Isso enviou aos pagãos uma mensagem poderosa de solidariedade ao oferecê-los uma mão amiga.

O resultado, com o tempo, transformou as relações sociais e a proximidade das pessoas com essa comunidade de fé tão dedicada ao serviço do próximo.

3. Posicionar-se contra adultério, aborto e infanticídio

Os antigo mundo romano não era tão querido para com mulheres e crianças. Homens casados poderiam dormir com outras mulheres livremente (especialmente prostitutas e escravas), e os frutos não desejados destas relações eram simplesmente abortados ou deixados para morrer.

Cristãos manifestavam-se contra estas práticas, exortando aos seguidores do Cristo que se mantivessem fieis ao matrimônio (mesmo os homens), como também cuidar dos mais vulneráveis da sociedade: os bebês. Muitos cristãos resgatavam estes bebês abandonados e os criavam como seus.

Essas crenças somadas à prática piedosa proporcionaram aumento de natalidade e adoção, e claro, dentro das famílias cristãs, que se tornavam maiores que as famílias não-cristãs.

4. Teologia do Amor

As ações descritas – cuidar do próximo, aliviar os enfermos, salvar bebês – refletia antes de tudo princípios teológicos do cristianismo. O mais importante de todos é a mensagem de que Deus ama o mundo que criou e pede aos que O ama para também amar seus próximos.

Em nosso contexto “pós-cristão”, tal ideia parece ser evidente ou clichê. Mesmo assim, um amor incondicional no qual você dedica sua vida ainda é uma ideia radical. E isto sim é tão pouco levado a sério hoje em dia, fica apenas na teoria porque se tornou para muitos apenas um “código moral” e não uma vivência espiritual.

Na ascensão do Cristianismo, Stark faz matemática, e mostra que este movimento que tinha apenas mil seguidores no fim dos anos 40. D.C cresceu facilmente para 35 milhões no quarto século. Se os cristãos vivessem segundo os costumes de sua época, jamais teriam aumentado seu número ou sequer expandido.

Implicações

Que faremos com todas estas informações? Primeiro de tudo, devemos abandonar a crença pietista de que a fé cristã cresceu por conta de milagres extraordinários. Obviamente a providência divina é sempre o fator mais essencial. Porém, olhar com atenção os fatores dos primitivos pode revelar que havia muito mais em jogo.

Ignorar que outros fatores contribuíram para o crescimento do cristianismo não ajuda muito: se os cristãos modernos acham que a Igreja primitiva cresceu de forma miraculosa, há muito pouco a aprender e nada a fazer. Tem oração, mas não tem ação.

A pesquisa de Stark mostra uma poderosa lição: o testemunho regular e cotidiano dos cristãos em amar o próximo, cuidar dos pobres, órfãos e enfermos em seu próprio contexto e comunidade é o que contribuiu para a expansão da fé.

Se nós, contemporâneos cristãos, queremos resultados semelhantes, devemos agir da mesma maneira e com a mesma compaixão intensa. Devemos ser fieis a Deus que se revelou pelo Verbo, o Cristo, e mostra que é necessário mais do que ir a Igreja, é necessário SER Igreja: esta mesma comunidade que adotou crianças, são filhos adotivos de Deus e precisam transmitir o amor recebido.


Tradução do artigo "Four Reasons Why Early Christianity Grew So Quickly", de Seraphim Danckaert.
Fonte: http://myocn.net/four-reasons-why-early-christian-church-grew-so-quickly/

Um comentário:

  1. Márcio, saudações em Cristo!
    Recebi teu email e agradeço tuas palavras.
    Sucesso com a nova proposta do blog Pan-Ortodoxia!

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